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terça-feira, março 06, 2007

Ser Mãe em Portugal

Ser pais em Portugal é difícil, ou melhor, poder ser mãe é muitas vezes difícil.
As mulheres começam por ser discriminadas desde o momento em que pensam em querer engravidar. No trabalho continuam a ser olhadas de lado pelos patrões quando dizem que estão grávidas e muitas das vezes tornam-se mesmo “presas a abater”. Infelizmente para muitos, gravidez é sinónimo de doença.
Eu senti isso na pele.
Trabalhava há 4 anos na empresa, estava efectiva e já tinha feito grandes sacrifícios da minha vida pessoal em favor do trabalho. Quando soube que estava grávida fiquei imensamente feliz e desejei bradar aos 7 ventos, no entanto como tinha sofrido um aborto espontâneo numa 1ª gravidez, resolvi esperar que passassem os primeiros 3 meses para poder contar aos amigos, colegas e patrões. Durante esse tempo vivi a minha gravidez com receio de perder aquele bebé tão desejado mas feliz e de certo modo tranquila. Não prejudiquei o meu trabalho em nada pois tirando os enjoos e o sono nada me impedia de o desempenhar nas mesmas condições de anteriormente. Sentia-me tão feliz que não via a hora de passarem aqueles primeiros 3 meses para poder partilhar a minha felicidade com os outros.
No dia 16 de setembro tive finalmente a consulta tão esperada das 12 semanas a partir da qual me senti finalmente “livre” para poder divulgar o meu estado de graça. Nada nem ninguém me fazia prever no que os 2 próximos dias se iriam transformar e originar. No dia 17 de setembro assim que cheguei ao escritório resolvi logo ligar para a sede da empresa para falar com o meu patrão (filho) e colocá-lo ao corrente da situação. Esperava que ele aceita-se bem a notícia pois para além de já trabalharmos juntos à 4 anos, tínhamos a mesma idade e também ele tinha sido pai por 2 vezes nos últimos 2 anos. A conversa correu bem , pensei eu mas mal sabia...
Nesse mesmo dia a seguir ao almoço começou o meu desespero. O meu patrão (filho) começou a fazer-me chamadas onde por entre palavras me “ameaçava” que tínhamos que ter uma conversa séria. Quando lhe perguntava do que se tratava, respondia que depois diria. A sua voz era ameaçadora e as palavras que utilizava nada amigas. Os meus nervos estavam à flor da pele, as hormonas alteradas com a gravidez em nada ajudavam e a tensão estava a dar cabo de mim. Nessa noite não consegui dormir e só me apetecia chorar tal o estado de nervos em que ele me tinha conseguido colocar. No dia a seguir saí de casa decidida a que a tal conversa não podia passar daquele mesmo dia. Assim que cheguei ao escritório liguei-lhe e voltei a perguntar do que se tratava. Disse que eu logo veria e que esperasse pois ele falaria comigo quando assim o entendesse. Não aguentava mais aquilo, os nervos não me deixavam parar de chorar. Liguei ao P e pedi-lhe se podia ausentar-se do seu trabalho para se deslocar comigo à sede para falar com o meu patrão (filho). Não ia esperar mais um dia para saber o que aquele “monstro” queria comigo.
A conversa não foi nada bonita, disse que me ia mudar de instalações e baixar o ordenado para metade. Desesperei. O local para onde ele me queria enviar para além de não ter condições (junto de um bairro nada famoso e com ratos a entrar-nos pela porta) ficava bastante mais longe que o actual escritório onde me encontrava o que me obrigava a sair de casa mais cedo, levar almoço, gastar mais em deslocações e regressar a casa mais tarde. No entanto eu nada poderia contestar quanto ao que ele me queria obrigar a fazer pois os nossos contratos mencionavam que poderíamos ter que nos deslocar para outros escritórios e mesmo em relação ao facto de ele me ir tirar metade do dinheiro estava de mãos atadas pois sempre foramos por eles obrigados a declarar e descontar um valor muito baixo (ordenado mínimo). Por outras palavras o que ele estava a querer era pressionar-me e fazer-me eu tomar a única decisão sensata que eu poderia tomar, que era despedir-me. Aliás a hipótese foi mesmo colocada por ele.
Sabia perfeitamente o que me ia esperar se aceitasse o que ele me impunha. Já tinha perdido um bebé e não queria colocar em risco aquela vida que se gerava dentro de mim e que eu tanto desejava. Aqueles 2 dias já me tinham feito transmitir para o meu bebé um estado de desespero que eu não queria que ele sentisse e logo não hesitei.
Deram-me a hora de almoço para reflectir. O meu marido que esperava na sala enquanto me reuni com eles assim que lhe contei o que se passava disse-me logo “Assina a carta de despedimento, não te quero mais ali.”
Ainda nos dirigimos, mesmo sem ser sócios, ao sindicato de trabalhadores a pedir que nos esclarecessem e nos aconselhassem. Pouco ou nada podíamos fazer, eles tinham tudo a favor deles por causa das tais cláusulas do contrato. Disseram-me para tentar negociar com eles e tentar conseguir que me passassem os documentos para o desemprego (quase impossível pois estariam a queimar-se e a dar-me a hipótese de poder fazer queixa deles no tribunal alegando despedimento por discriminação por estar grávida). O P. disse-me logo que não se pensava mais e não trabalhava mais nem um minuto com aquele homem. Comemos alguma coisa e fomos para lá para finalizar o que há muito já estava finado. Assinei a carta que ele me apresentou onde eu dizia que me despedia. Fizeram-me as contas e virei costas a algo onde eu já tinha gasto tanto de mim, onde eu julgava ter amigos, onde eu sentia sermos uma “família”.
Ilusão, tudo ilusão. O futuro apresentava-se incerto, quem iria dar trabalho a uma mulher grávida de 12 semanas?


Continua...

6 comentários:

Ana Santos disse...

Fiquei muito contente com a tua vezita ao meu tesouro precioso.
Faz tanto tempo que não conversamos.
Infelizmente somos discreminadas por sermos mães.
Ultimamente não tenho tido tempo de vir à net, mas antes tentava aceder ao teu blog e não conseguia.
Beijinhos,
ana e seus tesourinhos
Ps quando discreminam a mulher grávida deveriam pensar nas suas mães e mulheres e até mesmo nas filhas.

Natércia Charruadas disse...

Infelizmente é a realidade que temos. O nosso sistema ainda protege demais o patronato.
Há pessoas muito reles.
Jinhos para ti e parabéns pela decisão, que apesar de dificil foi a mais acertada.

Perola Granito disse...

é a vida... :(

RuRafael disse...

Patrões!
Enfim, amiga. O que vale é que já passou.
Beijos Grandes!

AnaBond disse...

obrigado pelo teu comentário.

fiquei de boca aberta com o que se passou... infelizmente é o nosso mundo de homens...
e ainda se espantam que haja um dia internacional da mulher.
humpf

Rita disse...

estou parva amiga....