Lilypie 5th Birthday Ticker

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Recordando...O parto

A sala de partos estava a uma temperatura mais baixa e assim que entrei senti arrepios de frio que se misturavam com arrepios de nervosismo. No ar ouvia-se música clássica. Por instantes senti-me perdida e sozinha no meio de tanta gente de máscara na cara e tentei pensar em algo que me fizesse sentir mais tranquila e ajudar a que tudo corresse bem. O anestesista veio ter comigo e eu disse-lhe logo de chofre “estou muito nervosa e tenho medo de não conseguir cooperar”. Felizmente ele era uma pessoa espectacular e esteve sempre na brincadeira comigo para fazer-me descontrair. Pegou na minha mão e explicou-me com calma quais os passos da epidural e pediu-me apenas para eu fazer o que ele dissesse para que tudo corresse bem. Mandou-me sentar na mesa com os pés apoiados numa cadeira e curvar-me de modo a que ele começasse a anestesiar o local onde iria dar a epidural e inserir o catéter. À medida que ia picando informava o que tinha feito, o que eu ia sentir e o que ele ia fazer. Fui-me sentindo mais confiante. Quando ele disse “agora tente levantar as pernas, mas não deve conseguir pois vai senti-las muito pesadas”, pensei que era impossível pois não sentia nada diferente mas a verdade é que já mal consegui levantar os pés quanto mais as pernas.
Finalmente deitada, ligada um monitor que controlava os nossos batimentos cardíacos e a minha tensão. Colocaram um lençol à minha frente que me impossibilitava de ver o que se estava a passar e deram início à cesariana. O anestesista injectava-me de vez em quando um líquido transparente no catéter que explicou-me ser soro e que servia para equilibrar a minha tensão devido à quebra que a epidural provoca. Enquanto isso “senti” (se é que posso usar esse termo) que alguém me mexia na barriga (comparo a sensação que tive como se me tivessem a escrever em cima das costas por cima da roupa), e que me remexiam e puxavam. A meu lado o anestesista puxava conversa banal e falávamos de Tortas de Azeitão como se nada fosse connosco. Brincou comigo dizendo-me que eu ia ter um menino. Numa altura em que virei a cara para o lado esquerdo apercebi-me que se eu quisesse poderia assistir a tudo o que se estava a passar para lá do lençol através do reflexo que era projectado no vidro de um armário. Imediatamente desviei os olhos, preferi não ver (hoje gostava de ter visto) com receio de entrar em pânico ou até desmaiar e eu queria estar consciente para ver a minha princesa.
De repente o anestesista disse:
“Agora vai respirar fundo 3 vezes pois será a última vez que irá respirar para a sua filha.”
Ainda mal eu tinha acabado de inspirar pela 3ª vez, senti um puxão mais forte e já ouvia o seu choro a envolver o ar e a calar a música que se fazia ouvir na sala (4 estações de Vivaldi). “A minha princesa”, pensei. Senti uma felicidade e uma paz invadir-me. O anestesista que a estava a ver disse-me logo que ela estava bem e que era linda e foi avisar o P que ela já tinha nascido e que tudo estava a correr bem.
A neonatologista que estava a assistir ao parto fez-lhe os testes de Apgar que deram ambos 10 tanto no 1º minuto como no 5º minuto de vida e veio perguntar-me se queria que retirassem sangue do cordão umbilical para fazerem testes de imunologia e verem se ela saía a mim (asmática). Concordei.
Entretanto enquanto tudo isto se passava, era cosida e repuxada de um lado e repuxada do outro. Num instante apareceram junto de mim com a minha princesa já vestidinha e aconchegada. Eu olhava para ela e nem me queria acreditar que ela estava finalmente ali à minha frente ao final de tantas semanas dentro de mim. Aquelas bochechinhas, aquele queixinho já tão familiares das ecografias estavam agora à minha frente de olhinhos abertos a olhar para mim.
“Olá filha, olá meu amor” – foram as minhas 1ªs palavras.
Dei-lhe um beijinho e levaram-na para o berçário onde a outra metade que faz parte dela a esperava com alguma expectativa e ansiedade, o pai.
Ali fiquei a pensar neles e desejosa de a eles me juntar.

Continua...

Sem comentários: