Imunidades

Umas nascem connosco, outras adquirem-se com vacinas e há as que se ganham com o tempo.
Todos os dias a A. se queixa de dores de barriga quando a vou deixar à creche e todos os dias faz a sua choradinha. Ao início era choro verdadeiro e aos poucos foi passando a uma ou outra lagriminha que eu comecei a identificar e reconhecer como pura manha. O que ao início provocava em mim um turbilhão de emoções por me ver obrigada a deixá-la ali, aos poucos foi-me deixando mais segura de que ela ficava bem e com a certeza (constatada por mais do que 1 vez) de que assim que eu virava costas tudo passava e ela esquecia-se das dores de barriga para se entregar à brincadeira com os amiguinhos.
Hoje, depois de uma manhã como a de ontem, ela foi entretida a conversar comigo no percurso para a creche e quando lá chegou continuou sempre a conversar e a dizer-me quem eram os amiguinhos que já lá estavam na escolinha (ouvia as suas vozes na sala e sem os ver dizia-me quem eram). Vesti-lhe a bata com ela sempre bem e entrámos na sala onde os amiguinhos estavam sentadinhos a ver televisão e a comer o reforço do pequeno almoço. Ao contrário do que é costume quis que eu lhe desse uma cadeirinha para também ela se sentar ao pé deles (por norma vai sempre a contra gosto para o colo da auxiliar e quer ir dizer-me adeus à janela) e foi ali que ficou a comer enquanto eu me despedi e desejei a todos um bom dia.
Saí de lá com um sorriso no rosto como se a minha filha me tivesse dado o mais lindo presente. O mais curioso é que são momentos como este que me fazem tão imune a momentos como os outros.